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Aos poucos, a boate começou a encher. Os homens entravam, olhavam em volta, sentavam-se sozinhos, e logo aparecia alguém da casa, como se fosse uma festa e todos se conhecessem havia muito tempo, e agora estivessem aproveitando para divertir-se um pouco depois de um longo dia de trabalho. A cada homem que arranjava uma companhia, Maria suspirava, aliviada, embora já estivesse se sentindo muito melhor. Talvez porque fosse a Suíça, talvez porque, cedo ou tarde, encontraria aventura, dinheiro, ou um marido como sempre sonhara. Talvez porque - agora se dava conta - era a primeira vez em muitas semanas que saía de noite e ia para um lugar onde tocavam música e onde podia, de vez em quando, escutar alguém falando português. Divertia-se com as meninas a sua volta, rindo, tomando coquetel de frutas, conversando alegremente. Nenhuma delas viera cumprimentá- la ou desejar- lhe sucesso em sua nova profissão, mas isso era normal, afinal de contas era uma concorrente, adversária, disputando o mesmo troféu. Em vez de ficar deprimida, sentiu orgulho - estava lutando, combatendo, não era uma pessoa desamparada. Podia, assim que quisesse, abrir a porta e ir embora para sempre, mas iria sempre se lembrar que tivera coragem de chegar até ali, negociar e discutir sobre coisas nas quais, em nenhum momento da sua vida, ousara pensar. Não era uma vítima do destino, repetia a cada minuto: estava correndo seus riscos, indo além dos seus limites,

vivendo coisas que um dia, no silêncio do seu coração, nos momentos cheios de tédio da


velhice, poderia lembrar com certa dose de saudade - por mais absurdo que isso pudesse parecer.


Tinha certeza de que ninguém ia se aproximar dela, e amanhã tudo não passaria de uma espécie de sonho louco, que ela jamais ousaria repetir. Acabara de se dar conta de que mil francos por uma no ite só acontece uma vez, e seria mais seguro comprar a passagem de volta para o Brasil. Para que o tempo passasse mais rápido, começou a calcular quanto ganharia cada uma daquelas moças: se saíssem três vezes por dia, conseguiriam a cada quatro horas de trabalho o equivalente a dois meses de seu salário na loja de tecidos. Tudo isso? Bem, ela ganhara mil francos em uma noite, mas talvez fosse sorte de principiante. De qualquer maneira, os rendimentos de uma prostituta normal eram mais, muito mais, do que poderia conseguir dando aulas de francês na sua terra. Tudo isso tendo como único esforço ficar em um bar durante algum tempo, dançar, abrir as pernas, e ponto final. Nem mesmo conversar era necessário. Dinheiro podia ser um bom motivo, continuou pensando. Mas era tudo? Ou as pessoas que estavam ali, clientes e mulheres, conseguiam se divertir de alguma maneira? Será que o mundo era bem diferente do que lhe haviam contado na escola? Se usasse preservativo, não haveria nenhum risco, nem mesmo o de ser reconhecida por alguém de sua terra. Ninguém visita Genève, exceto - como lhe disseram uma vez no curso - os que gostavam de freqüentar bancos. Mas os brasileiros, em sua maioria, gostam mesmo é de freqüentar lojas, de preferência em Miami ou Paris. Trezentos francos por dia, cinco dias por semana.


Uma fortuna! O que aquelas meninas continuavam a fazer ali, se em um mês tinham dinheiro suficiente para voltar para comprar uma casa para suas mães? Será que estavam trabalhando havia pouco tempo?


Ou - e Maria teve medo da própria pergunta - ou será que era bom? De novo sentiu vontade de beber - o champanha ajudara muito no dia anterior. - Aceita um drink?


Diante dela, um homem de aproximadamente trinta anos, uniforme de uma companhia aérea.


O mundo entrou em câmara lenta, e Maria experimentou a sensação de sair do seu corpo e observar-se do lado de fora. Morrendo de vergonha, mas lutando para controlar o rubor de sua face, fez que sim com a cabeça, sorriu, e entendeu que a partir daquele minuto sua vida tinha mudado para sempre.


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