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Foi até o parque de diversões, comprou uma entrada para a montanha-russa, gritou como todos os outros, mas entendendo que não havia perigo, era apenas um brinquedo. Comeu em um restaurante japonês, mesmo sem entender direito o que comia sabia apenas que era muito caro -, e agora estava disposta a se dar todos os luxos. Estava alegre, não precisava esperar por um telefonema, ou contar os centavos que gastava. No final do dia, ligou para a agência, disse que o encontro fora muito bom, e que estava agradecida. Se fossem sérios, per guntariam sobre as fotos. Se fossem agenciadores de mulheres, arranjariam novos encontros.


Atravessou a ponte, voltou para o pequeno quarto, resolveu que não compraria de jeito nenhum uma televisão, mesmo tendo dinheiro e muitos planos pela frente: precisava pensar, usar todo o seu tempo para pensar.

Do diário de Maria naquela noite (com uma anotação na margem dizendo: "não estou muito convencida"):


Descobri por que um homem paga por uma mulher: ele quer ser feliz. Não vai pagar mil francos apenas para ter um orgasmo. Ele quer ser feliz. Eu também quero, todo mundo quer, e ninguém consegue. O que tenho a perder se resolver me transformar por algum tempo em uma... a palavra é difícil de pensar e escrever... mas vamos lá... o que posso perder se resolver ser uma prostituta por algum tempo? A honra. A dignidade. O respeito por mim. Pensando bem, nunca tive nenhuma destas três coisas. Não pedi para nascer, não consegui alguém que me amasse, sempre tomei as decisões erradas. Agora estou deixando que a vida decida por mim. A agência telefonou no dia seguinte, perguntou sobre as fotos e para quando seria o desfile, já que ganhavam uma comissão sobre cada trabalho. Maria disse que o árabe devia entrarem contato com eles, imediatamente deduzindo que não sabiam de nada. Foi até a biblioteca e pediu livros sobre sexo. Se estava considerando seriamente a possibilidade de trabalhar - por um ano apenas, ela havia prometido a si mesma - em algo sobre o qual não conhecia nada, a primeira coisa que precisava aprender era como agir, como dar prazer, e como receber dinheiro em troca. Para sua decepção, a bibliotecária disse que tinham apenas uns poucos tratados técnicos, já que o lugar era uma instituição do governo. Maria leu o índice de um dos tratados técnicos, e logo devolveu: não entendiam nada da felicidade, falavam apenas de ereção, penetração, impotência, precauções, coisas sem o menor sabor. Por um dado momento, chegou a considerar seriamente a possibilidade de levar "Considerações

psicológicas sobre a frigidez da mulher", já que, no seu caso, só conseguia ter orgasmos


através da masturbação, embora fosse muito agradável ser possuída e penetrada por um homem.


Mas não estava ali em busca de prazer, e sim de trabalho. Agradeceu à bibliotecária, passou em uma loja e fez seu primeiro investimento na possível carreira que se delineava .no horizonte - roupas que considerava sexy o suficiente para despertar todo tipo de desejo. Em seguida, foi ao lugar que havia descoberto no mapa. A Rue de Berne começava em uma igreja (coincidência, perto do restaurante japonês onde jantara no dia anterior!), transformava-se em vitrines vendendo relógios baratos, até que, em seu final, ficavam as boates de que havia escutado falar, todas fechadas àquela hora do dia. Tornou a passear em volta do lago, comprou - sem qualquer constrangimento - cinco revistas pornográficas para estudar o que eventualmente deveria fazer, esperou a noite, e dirigiu-se de novo ao lugar. Ali, escolheu por acaso um bar com o sugestivo nome brasileiro de Copacabana. Não tinha decidido nada, dizia para si mesma. Era apenas uma experiência. Nunca se sentira tão bem e tão livre em todo 0 tempo que passara na Suíça. - Está procurando emprego - disse o dono, que lavava copos detrás de um balcão, sem mesmo colocar um ponto de interrogação na frase. O lugar consistia em uma série de mesas, um canto com uma espécie de pista de dança e alguns sofás encostados nas paredes. - Nada feito. Para trabalhar aqui, já que obedecemos à lei, é preciso ter pelo menos uma carteira de trabalho.


Maria mostrou a sua, e o homem pareceu melhorar de humor. - Tem experiência?


Ela não sabia o que dizer: se dissesse que sim, ele iria perguntar onde trabalhara antes. Se negasse, ele seria capaz de recusá- la. - Estou escrevendo um livro.


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