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Lembro-me de tudo, menos do momento em que tomei a decisão. Curiosamente, não tenho nenhum sentimento de culpa. Antes costumava ver as meninas que iam para a cama por dinheiro como gente a quem a vida não tinha deixado nenhuma escolha - e agora vejo que não é assim. Eu podia dizer "sim"; ou "não", ninguém estava me forçando a aceitar nada.


Ando pelas ruas, olho as pessoas, será que elas escolheram suas próprias vidas? Ou será que elas também, como eu, foram "escolhidas" pelo dest ino? A dona de casa que sonhava em ser modelo, o executivo de banco que pensou em ser músico, o dentista que tinha um livro escondido e gostaria de dedicar-se à literatura, a menina que adoraria trabalhar na televisão, mas tudo que encontrou foi um emprego de caixa de supermercado. Não tenho a menor pena de mam mesma. Continuo não sendo uma vítima, porque podia ter saído do restaurante com a minha dignidade intacta e a minha carteira vazia. Podia ter dado lições de moral àquele homem à minha frente, ou tentado fazê- lo ver que diante de seus olhos estava uma princesa, era melhor conquista- la que compra- la. Podia ter tomado um sem-número de atitudes, entretanto - como a maioria dos seres humanos deixei que o destino escolhesse que rumo tomar.


Não sou a única, embora o meu destino pareça mais ilegal e marginal que o dos outros. Mas, na busca da felicidade, estamos todos empatados: o executivo/ músico, o dentista/escritor, a caixa/atriz, a dona de casa/modelo, nenhum de nós é feliz. Então é isso? Era fácil assim? Estava em uma cidade estranha, não conhecia ninguém, o que ontem era um suplício hoje lhe dava uma imensa sensação de liberdade, não precisava dar explicações a ninguém.


Resolveu que, pela primeira vez em muitos anos, ia dedicar o dia inteiro a pensar em si mesma. Até então vivera sempre preocupada com os outros: a mãe, os colegas de escola, o pai, os funcionários da agência de modelos, o professor de francês, o garçom, a bibliotecária, o que as pessoas na rua - que nunca tinha visto antes - estavam pensando. Na verdade, ninguém estava pensando em nada, muito menos nela, uma pobre estrangeira que, se desaparecesse amanhã, nem mesmo a polícia daria pela falta. Bastava. Saiu cedo, tomou o café da manhã no lugar de sempre, caminhou um pouco em torno do lago, viu uma manifestação de exilados. Urra mulher, com um pequeno cachorro, comentou que eram curdos, e, mais uma vez, em vez de fingir que sabia a resposta para mostrar que era mais culta e inteligente do que pensavam, ela perguntou: - De onde vêm os curdos?


A mulher, para sua surpresa, não soube responder. É assim o mundo: falam como se conhecessem tudo, e se você ousa perguntar, não sabem nada. Entrou em um cybercafé e descobriu na internet que as curdos vinham do Curdistão, um país inexistente, hoje dividido entre a Turquia e o Iraque. Voltou para o lugar onde estava, tentando encontrar a mulher com o cachorro, mas ela já havia partido, talvez porque o animal não tivera agüentado ficar meia hora vendo um bando de seres humanos com faixas, lenços, músicas, e gritos estranhos.


"Isso sou eu. Ou melhor, isso era eu: uma pessoa que fingia saber tudo, escondida em meu silêncio, até que aquele árabe me irritou tanto que tive coragem de dizer que só sabia a diferença entre refrigerantes. Ele ficou chocado? Mudou de id éia a meu respeito? Nada!

Deve ter achado fantástica a minha espontaneidade. Sempre saí perdendo quando quis


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