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Sem perder mais tempo, e agora com a certeza de que estava diante de uma iniciante, Milan ensinou- lhe o resto do ritual: o Copacabana devia ser um lugar agradável, e não um prostíbulo. Os homens entravam naquela boate querendo acreditar que iriam encontrar uma mulher desacompanhada, sozinha. Se alguém se aproximasse de sua mesa, e não fosse interrompido no percurso (porque, além de tudo, existia o conceito de "cliente exclusivo de certas meninas"), com toda certeza convidaria: "Quer beber alguma coisa?" Ao que Maria podia responder sim ou não. Era livre para decidir sua companhia, embora fosse desaconselhável dizer "não" mais de uma vez por noite. Caso respondesse afirmativamente, pediria um coquetel de frutas, que (por casualidade) era a bebida mais cara da lista. Nada de álcool, nada de deixar que o cliente escolhesse por ela. Depois, devia aceitar um eventual convite para dançar. A maioria dos freqüentadores era conhecida e, exceto pelos "clientes exclusivos", sobre os quais não entrou em detalhes, ninguém representava qualquer risco. A polícia e o Ministério da Saúde exigiam exames de sangue mensais, para ver se não eram portadoras de doenças sexualmente transmissíveis. O uso do preservativo era obrigatório, embora não tivessem como vigiar se esta norma estava sendo ou não cumprida. Não podiam jamais criar um escândalo - Milan era casado, pai de família, preocupado com sua reputação e o bom nome de sua boate. Continuou explicando o ritual: depois de dançar, voltavam para a mesa, e o cliente, como se estivesse dizendo algo inesperado, a convidava para ir a um hotel com ele. O preço normal era trezentos e cinqüenta francos, dos quais cinqüenta francos ficariam para Milan, a título de aluguel da mesa (um artifício legal para evitar, no futuro, complicações jurídicas e acusação de explorar o sexo com fins lucrativos). Maria ainda tentou argumentar:


- Mas eu ganhei mil francos por...


O dono fez menção de afastar-se, mas a brasileira, que assistia à conversa, interferiu:

- Ela está brincando.


E, virando-se para Maria, disse em bom e sonoro português: - Este é o lugar mais caro de Genève (ali a cidade se chamava Genève, e não Genebra). Nunca repita isso. Ele conhece o preço do mercado, e sabe que ninguém vai para a cama por mil francos, exceto, se tiver sorte e competência, com os "clientes especiais".

Os olhos de Milan, que mais tarde Maria descobriria ser um iugoslavo que ali vivia fazia vinte anos, não deixavam margem a qualq uer dúvida: - O preço é trezentos e cinqüenta francos. - Sim, o preço é este - repetiu uma humilhada Maria. Primeiro, ele pergunta qual a cor de sua roupa de baixo. Em seguida, decide o preço do seu corpo.


Mas não tinha tempo para pensar, o homem continuava dando instruções: não devia aceitar convites para ir a casas ou a hotéis que não fossem cinco estrelas. Se o cliente não tivesse aonde levá-la, ela iria a um hotel localizado a cinco quadras dali, mas sempre de táxi, para evitar que outras mulheres de outras boates na Rue de Berne se acostumassem com seu rosto. Maria não acreditou nisso, e pensou que a verdadeira razão fosse receber um convite para trabalhar em melhores condições, em outra boate. Mas guardou seus pensamentos para si mesma, já lhe bastava a discussão sobre o preço. - Repito mais uma vez: assim como os policiais no cinema, jamais beba enquanto trabalha. Vou deixá- la, o movimento começa daqui a pouco. - Agradeça a ele - disse, em português, a brasileira. Maria agradeceu. O homem sorriu, mas ainda não tinha terminado sua lista de recomendações:


- Esqueci algo: o tempo entre o pedido de bebida e o momento de sair não deve ultrapassar, de maneira alguma, quarenta e cinco minutos. Na Suíça, com relógios por todos os lados, até iugoslavos e brasileiros aprendem a respeitar o horário. Lembre-se de que eu alimento meus filhos com sua comissão.


Estava lembrado.


Deu-lhe um copo de água mineral com gás e limão - podia facilmente passar por gim- tônica - e pediu que aguardasse.


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