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- Sente-se ali - disse, apontando para uma cadeira ao lado da escrivaninha. Era uma ordem! Uma verdadeira ordem. Maria obedeceu e, estranhamente, aquilo a excitou.


- Sente-se direito. Estique as costas, como uma mulher de classe. Se não fizer isso, vou castigá - la.

Castigar! Cliente especial! Em um minuto ela entendeu tudo, tirou os mil francos da


bolsa e colocou-os na escrivaninha.


- Eu sei o que você quer - disse, olhando para o fundo daqueles gelados olhos azuis. - E não estou disposta.


O homem pareceu voltar ao normal, e viu que ela falava a verdade. - Tome seu vinho - disse. - Não vou forçá- la a nada. Pode ficar mais um pouco, ou pode sair se quiser.


Aquilo a deixou mais tranqüila.


- Tenho um emprego. Tenho um patrão que me protege e acredita em mim. Por favor, não comente nada com ele.


Maria disse isso sem nenhum tom de autopiedade, sem implorar nada - era simplesmente a realidade de sua vida.


Terence também voltara a ser o mesmo homem - nem doce, nem duro, apenas alguém que, ao contrário dos outros clientes, dava a impressão de saber o que desejava. Agora parecia sair de um transe, de uma peça de teatro que ainda não tinha começado.

Valia a pena ir embora assim, sem jamais descobrir o que significa um "cliente especial"?


- O que você queria, exatamente?


- Você sabe. Dor. Sofrimento. E muito prazer. "Dor e sofrimento não combinam com muito prazer", pensou Maria. Embora quisesse desesperadamente acreditar que sim, e desta maneira transformar em positiva uma grande parte das experiências negativas de sua vida. Ele pegou-a pelas mãos e levou-a até a janela: do outro lado do lago podiam ver a torre de uma catedral - Maria lembrava-se que passara por ali enquanto percorria com Ralf Hart o Caminho de Santiago.


- Você está vendo este rio, este lago, estas casas, aquela igreja? Há quinhentos anos, era tudo mais ou menos igual.


"Só que a cidade estava completamente vazia; uma doença desconhecida havia se espalhado por toda a Europa, e ninguém sabia por que morria tanta gente. Começaram a chamar a doença de peste negra, uma punição que Deus havia enviado ao mundo por causa dos pecados do homem.


"Então, um grupo de pessoas resolveu sacrificar-se pela humanidade. Ofereceram aquilo que mais temiam: a dor física. Passaram a caminhar dia e noite por estas pontes, estas ruas, açoitando o próprio corpo com chicotes ou correntes. Sofriam em nome de Deus, e louvavam a Deus com sua dor. Em pouc o tempo, descobriram que eram mais felizes fazendo isso do que cozinhando o pão, trabalhando na lavoura, alimentando os animais. A dor já não era mais o sofrimento, mas o prazer de resgatar a humanidade dos seus pecados. A dor se transformara em alegria, no sentido da vida, no prazer." Seus olhos voltaram a ter o mesmo brilho frio que vira alguns minutos antes. Pegou o dinheiro que ela havia deixado em cima da escrivaninha, retirou cento e cinqüenta francos e colocou-os em sua bolsa.


- Não se preocupe com o seu patrão. Aqui está a comissão dele, e prometo que não direi nada. Pode ir embora.


Ela agarrou todo o dinheiro.


- Não!


- Sabe por que aceito isso? Porque não há maior prazer do que iniciar alguém em um mundo desconhecido. Tirar a virgindade, não do corpo, mas da alma, está entendendo?

Estava entendendo.


- Hoje você poderá fazer perguntas. Mas da próxima vez, quando a cortina do nosso teatro se abrir, a peça começa e não pode parar. Se parar, é porque nossas almas não se combinaram. Lembre-se: é uma peça de teatro. Você tem que ser aquele per de ser. Aos poucos, você vai


descobrir que tal personagem é você mesma, mas até conseguir Não existe dor, existe algo que se transforma em delícia, em mistério. Faz parte da peça pedir: "Não me trate assim, está ferindo muito." Faz parte pedir: "Pare, eu não agüento mais!" E por isso, para evitar o perigo... abaixe a cabeça e não me olhe! Maria, ajoelhada, abaixou a cabeça e fitava o chão. - Para evitar que esta relação cause danos físicos sérios, teremos dois códigos. Se um de nós disser "amarelo", isso significa que a violência deve ser reduzida um pouco. Se disser "verme


Os papéis se alternam. Não existe um sem o outro, e nin guem saberá humilhar se não for também humilhado. Eram palavras terríveis, vindas de um mundo que não conhecia, cheio de sombra, de lama, de podridão. Mesmo assim, ela sentia vontade de ir adiante - seu corpo estava tremendo, de


A mão de Terence tocou em sua cabeça com uma ternura inesperada. - Fim.


Pediu que se levantasse. Sem um carinho especia l, mas sem a agressividade seca que demonstrara. Maria vestiu o casaco, ainda tremendo. Terence notou o seu estado. - Fume um cigarro antes de ir.


- Não aconteceu nada.


- Não precisa. Começará a acontecer em sua alma, e da próxima vez que nos encontrarmos, estará pronta.


- Essa noite valeu mil francos?


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