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- Mas o fato é que eu não desvio meus olhos, e você não sabe o que fazer. Deve aproximar-se? Será rejeitado? Chamarei um guarda? Ou o convidarei para tomar café? - Estou voltando de Munique - disse Ralf Hart, e seu tom de voz era diferente, como se estivessem realmente se encontrando pela primeira vez. - Estou pensando em uma coleção de quadros sobre as personalidades do sexo. As muitas máscaras que as pessoas usam para jamais viverem o verdadeiro encontro. Ele conhecia o "teatro". Milan dissera que era também um cliente especial. O alarme tocou, mas ela precisava de tempo para pensar.

- O diretor do museu me disse: "Em que você pretende basear o seu trabalho?" Eu


respondi: "Em mulheres que se sentem livres para fazer amor por dinheiro." Ele comentou: "Não dá, chamamos estas mulheres de prostitutas." Eu respondi: "Bem, são prostitutas, vou estudar a história delas e farei algo mais intelectual, mais a gosto das famílias que irão freqüentar o seu museu. Tudo é uma questão de cultura, sabia? De apresentar de uma maneira agradável aquilo que custa a ser digerido." O diretor insistiu: "Mas o sexo não é mais tabu. É uma coisa tão explorada, que fica difícil fazer um trabalho com este tema." Eu respondi: "E você sabe de onde vem o desejo sexual?" "Do instinto", disse o diretor. "Sim, do instinto", afirmei, "mas isso todo mundo sabe. Como fazer uma bela exposição, se estamos apenas falando de ciência? Eu quero falar de como o homem explica essa atração. Como um filósofo, por exemplo, contaria isso." O diretor pediu que eu desse um exemplo. Eu disse que, quando tomasse o trem de volta para casa e alguma mulher me olhasse, eu iria falar com ela; diria que, por ser uma estranha, poderíamos ter a liberdade de fazer tudo que tínhamos sonhado, viver todas as nossas fantasias, e depois ir para nossas casas, nossas mulheres e nossos maridos, sem que jamais nos cruzássemos novamente. E então, nesta estação de trem, eu a vejo."


- Sua história é tão interessante, que está matando o desejo. Ralf Hart riu, e concordou. O vinho tinha acabado, ele foi até a cozinha pegar mais uma garrafa, e ela ficou olhando o fogo, já sabendo qual seria o próximo passo, mas ao mesmo tempo saboreando o ambiente acolhedor, esquecendo o executivo inglês, voltando a entregar-se.


Ralf serviu os dois copos.


- Apenas como curiosidade, de que maneira você acabaria esta história com o diretor? - Citaria Platão, já que estaria diante de um intelectual. Segundo ele, no início da criação, os homens e mulheres não eram como são hoje; havia apenas um ser, que era baixo, com um corpo e um pescoço, mas sua cabeça tinha duas faces, cada uma olhando para uma direção. Era como se duas criaturas estivessem grudadas pelas costas, com dois sexos opostos, quatro pernas, quatro braços. "Os deuses gregos, porém, eram ciumentos, e viram que uma criatura que tinha quatro braços trabalhava mais, duas faces opostas esta vam sempre vigilantes e não podia ser atacada por traição, quatro pernas não exigiam tanto esforço para ficar de pé ou andar por longos períodos. E, o que era mais perigoso: tal criatura tinha dois sexos diferentes, não precisava de ninguém mais para continuar se reproduzindo na terra. "Então disse Zeus, o supremo senhor do Olimpo: `Tenho um plano para fazer com que estes mortais percam sua força.'


"E, com um raio, cortou a criatura em dois, criando 0 homem e a mulher. Isso aumentou muito a população do mundo, e ao mesmo tempo desorientou e enfraqueceu os que nele habitavam - porque agora tinham que buscar de novo sua parte perdida, abraçá-la de novo, e nesse abraço recuperar a força antiga, a capacidade de evitar a traição, a resistência para andar longos períodos e agüentar o trabalho cansativo. O abraço em que os dois corpos se confundem de novo em um, nós o chamamos de sexo." - Essa história é verdade?


- Segundo Platão, o filósofo grego.


Maria olhava-o fascinada, e a experiência da noite anterior tinha desaparecido por completo. Ela via o homem à sua frente cheio da mesma "luz" que ele enxergara nela, contando aquela estranha história com entusiasmo, os olhos brilhando não mais de desejo, mas de alegria.


- Posso lhe pedir um favor?

Ralf respondeu que podia pedir qualquer coisa.


- Pode descobrir por que, depois que os deuses separaram a criatura com quatro pernas, algumas delas resolveram que o abraço podia ser apenas uma coisa, um negócio como outro qualquer, que, em vez de acrescentar, retira a energia das pessoas? - Você está falando de prostituição?


- Isso. Pode descobrir quando o sexo deixou de ser sagrado? - Farei isso se você quiser - respondeu Ralf. - Mas nunca pensei nisso, e creio que ninguém mais pensou; talvez não haja material a esse respeito. Maria não agüentou a pressão:


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