A sua mão direita cerra-se num punho. É sensível em relação à sua carreira. Sei que sim. Sempre sonhou ser um empresário de sucesso, e gerir uma pouco próspera loja de móveis antigos está bem longe desse sonho. Podia ajudá-lo a fazer muito mais – podia transformá-lo no homem que quer ser. No homem que
Só precisa de me
– És cá um falhado – prossigo. – O que vais fazer quando a loja falir? Arranjar um emprego no
– Chega! Para!
– Queres que pare? Então
Antes que eu sequer perceba o que está a acontecer, uma explosão de dor eclode do lado esquerdo do meu rosto. Arquejo e cambaleio para trás, agarrando-me ao toalheiro. Por um segundo, vejo estrelas.
– Wendy! – O grito angustiado do Russell arranca-me ao meu torpor. – Jesus Cristo, peço imensa desculpa!
Parece estar à beira das lágrimas, mas não se sente tão mal como o meu rosto. Céus, acertou-me mesmo com força. Não tinha a certeza de que fosse capaz. Toco no rosto e percebo que há sangue a jorrar do meu nariz.
– Estás a sangrar – arqueja.
Foi à procura de alguns toalhetes de papel, e faço os possíveis por estancar o fluxo de sangue do meu nariz. Ao fim de alguns minutos, parece parar. Bem, maioritariamente.
Quando olho para o Russell, as suas poderosas sobrancelhas estão franzidas.
– Estás bem? Peço imensa desculpa.
A casa de banho está um desastre. O meu sangue gotejou pelo chão todo. E há uma marca ensanguentada de uma mão na beira do lavatório, onde me agarrei enquanto tentava desesperadamente fazer com que o meu nariz parasse de sangrar.
Oh, meu Deus, é perfeito.
58
Passo 7: Matar o Sacana
Na noite em que Douglas foi assassinado
As engrenagens rangem dolorosamente no elevador. Chegou.
É este o momento. Foi para isto que passámos os últimos meses a trabalhar. A Millie saiu do apartamento há uma hora, trémula e convencida de que tinha acabado de assassinar o meu marido. A polícia interrogá-la-á. Ela quebrará e confessará o que fez. E eu terei plantado cuidadosamente provas para os convencer que o fez porque andava a ter um caso com o Douglas. Não me posso dar ao luxo de ser envolvida.
Agora, só resta uma peça no quebra-cabeças. Temos de matar o Douglas, desta vez a sério.
O Russell está à espera na cozinha, segurando a arma que a Millie ainda agora usou para o alvejar com um cartucho vazio – só que, desta vez, com balas reais. Está pronto.
As portas do elevador abrem-se e eu desço o corredor para ir cumprimentar o meu marido uma última vez. Paro bruscamente, surpreendida pela sua aparência. Perdeu peso desde a última vez que o vi e tem olheiras púrpura cravadas debaixo dos olhos. Tem uma barba de pelo menos dois dias no queixo.
– Estás com um aspeto horrível – deixo escapar.
O Douglas ergue bruscamente o olhar.
– Prazer em ver-te também, Wendy.
– Quero dizer... – Afasto uma madeixa de cabelo da cara. Limpei cuidadosamente toda a maquilhagem dos meus falsos hematomas depois de a Millie partir. – Quero dizer que pareces... cansado.
Ele solta um longo e atormentado suspiro.
– Tenho andado a trabalhar noite e dia numa nova atualização do software. E então tu ligas-me a implorar que venha cá praticamente a meio da noite.
– Trouxeste-os?
O Douglas ergue a pasta de cabedal esfarrapada que traz sempre consigo.
– Tenho os papéis do divórcio aqui mesmo. Espero que estejas pronta para assinar.
Não propriamente. Mas não precisa de saber disso.
Levo o Douglas à sala de estar. O meu corpo retesa-se, esperando que o Russell saia da cozinha e alveje o meu marido à queima-roupa no peito. É suposto fazê-lo assim que entrarmos na sala. É suposto fazê-lo... agora.
Maldição.
O Douglas consegue percorrer todo o caminho até ao nosso sofá modular sem ser assassinado pelo meu amante. Fico bastante desiludida. Deixa-se cair na almofada e pousa a pasta na mesa de café.
– Vamos acabar com isto – murmura.
Não, ainda não. Não o trouxe aqui para assinar os papéis do divórcio. Isso é o oposto do porquê de eu o querer aqui. Só que o Russell não sai. Não o vejo nem consigo ouvi-lo. O que se passa?
– Posso ir buscar-te algo para beber? – pergunto. Parece estar prestes a recusar, por isso prossigo rapidamente. –Vou buscar-te um pouco de água.
Antes que o Douglas possa protestar, lanço-me em direção à cozinha, deixando-o para trás no sofá com os papéis do divórcio. Neste momento, estou absolutamente furiosa. Até aqui, tudo correu exatamente da forma como planeei. Só mais uma coisa precisa de acontecer. O Russell tem de matar o Douglas.
Quando entro na cozinha, porém, o Russell está encolhido ao canto. A arma está em cima da bancada e parece estar a ter um ataque de pânico. Agarra-se à bancada com as luvas de cabedal e tem a respiração acelerada, o rosto branco como um lençol.
– Russell! – silvo-lhe. – De que raio estás à espera?