Anjo ficara vermelho, levado quase à loucura pela insídia escarninha e as provocações que persistiam há meses, e teria recorrido à espada se Sanjiro não estivesse protegido pelo mandato imperial.
— Se o Tairo Li não negociasse os tratados e depois os assinasse, os
— Mera suposição... e absurda!
— Já esqueceu que o palácio de verão em Pequim foi incendiado e
— Nós os impediríamos... não somos chineses.
— Como? É lamentável, mas você está cego e surdo, tem a cabeça nas nuvens. Há um ano, no momento em que acabou a última guerra da China, se os Provocássemos, eles teriam enviado contra nós todas aquelas esquadras e exércitos. Foi somente a astúcia do
É responsabilidade do xogunato estarmos despreparados, responsabilidade de Toranaga. Há anos que deveríamos ter canhões e navios de guerra modernos, anos que sabíamos de sua existência. Os holandeses nos alertaram dezenas de vezes sobre as novas invenções, mas vocês enfiaram a cabeça nos baldes noturnos!
No máximo, poderiam ter concedido um porto, Deshima...
Por que dar ao demônio americano Townsend Harris também Iocoama, Hirodate, Basáqui e Kanagawa, além de permitir acesso a Iedo para suas impertinentes legações? Renunciem e deixem que outros mais qualificados salvem a terra dos deuses...
A lembrança da confrontação fez Anjo suar, assim como o conhecimento de que era certo muito do que Sanjiro dissera. Ele tirou um lenço de papel da manga volumosa, enxugou o suor da testa e da cabeça raspada, olhou para Yoshi invejando o seu porte e boa aparência, mas acima de tudo a sua juventude e virilidade legendárias.
Não muito tempo atrás era fácil ser satisfeito. Normal ser potente, pensou Anjo com uma súbita angústia, a dor sempre presente em sua virilha a lembrá-lo. Não muito tempo atrás, era fácil ficar ereto, sem qualquer esforço, e dispor de uma carga abundante... agora, não era mais possível, nem mesmo com a pessoa mais desejável, com todas as habilidades, com as mais raras pomadas e medicamentos.
— Sanjiro pode se considerar além do alcance, mas não está — disse ele, decidido. — Pense nisso também, Yoshi-dono, nosso jovem, mas tão sábio conselheiro, como removê-lo, ou sua cabeça pode acabar também na ponta de um chuço, e muito em breve.
Yoshi decidiu não assumir a ofensa e sorriu.
— O que os outros anciãos pensam a respeito?
Anjo soltou uma risada irônica.
— Eles votarão como eu disser.
— Se você não fosse parente, eu poderia sugerir que renunciasse ou cometesse seppuku.
— É uma pena que não seja seu ilustre homônimo e, assim, não possa dar essa ordem, hem? — Anjo levantou-se. — Enviarei a resposta agora, para ganhar tempo. Amanhã faremos uma votação formal para humilhar Sanjiro...
Ele virou-se abruptamente, furioso, quando a porta foi aberta. Yoshi já tirara a metade da espada da bainha.
— Dei ordens...
O guarda aturdido murmurou:
— Desculpe, Anjo-sama...
A raiva de Anjo se desvaneceu quando um jovem empurrou o guarda para o lado e entrou apressado na sala, seguido de perto por uma moça, que mal chegava a ter um metro e meio de altura, ambos em trajes suntuosos, com quatro samurai
— Esse terremoto quebrou meu vaso predileto! — disse o rapaz, excitado, ignorando a presença de Yoshi. — Meu vaso predileto!
Ele acenou para que a porta fosse fechada. Seus samurai
— Eu queria lhe dizer que tive uma idéia maravilhosa.
— Lamento muito pelo vaso, Sire — disse Anjo, a voz gentil. — Teve uma...
— Nós... decidimos, minha esposa e eu, decidimos ir a Quioto para falar com o imperador, e perguntar o que fazer com os