— Independente do que aconteça, eles não devem ver o xógum — acrescentou Yoshi. — Isso confirmaria a legalidade dos tratados, que ainda não foram devidamente ratificados. Vamos recusar o insolente pedido.
— Concordo que é insolente, mas ainda temos de lidar com o problema e decidir sobre aquele cão de
Ambos estavam cansados do problema dos
Era um dia ensolarado e ameno lá fora, o cheiro do mar e do solo fértil trazido pela suave brisa que passava pelas janelas abertas. Ainda não havia qualquer ameaça do inverno.
Mas o inverno se aproximava, pensou Anjo, distraído pela dor em suas entranhas. Detesto o inverno, a estação da morte, a estação triste, céu triste, mar triste, terra triste, feia e congelada, o frio endurecendo suas articulações, lembrando como é velho. Era um homem grisalho, de quarenta e seis anos,
Enquanto você, meu jovem inexperiente, pensou ele, furioso, tem apenas dois meses no conselho, e quatro semanas como guardião — duas posições políticas perigosas, atribuídas apesar dos meus protestos. É tempo de cortar suas asas.
— Claro que todos prezamos seu conselho — disse ele, insinuante, para depois acrescentar, com toda hipocrisia, como ambos sabiam: — Há dois dias que os
— A mesma de ontem, com ou sem pergaminho oficial: enviamos outro pedido de desculpas, “pelo lamentável incidente”, temperado com um sarcasmo que eles nunca vão compreender, de uma autoridade que jamais conhecerão, entregue antes de o líder
— Enquanto isso, é chegado o momento de exercer nosso direito hereditário ao xogunato e ordenar a Sanjiro que nos entregue sem demora os assassinos, para a necessária punição, e pague uma indenização, por nosso intermédio, além de ficar sob prisão domiciliar e ser afastado de suas funções. — O tom de Anjo era ríspido. — Você ainda é inexperiente nas questões mais importantes do xogunato.
Fazendo um esforço para se controlar e desejando obrigar o próprio Anjo a uma aposentadoria imediata por sua estupidez, Yoshi respondeu:
— Se dermos essas ordens a Sanjiro, seremos desobedecidos, o que nos forçaria a entrar em guerra, e
Houve um silêncio súbito e opressivo. Numa reação involuntária, os dois levaram a mão ao cabo da espada. As xícaras e o bule começaram a tremer. A própria terra rugia, a torre balançou, uma, duas, três vezes. O terremoto persistiu por cerca de trinta segundos. E logo acabou, tão subitamente como começara. Impassíveis, eles esperaram, observando as xícaras.
Nada de tremor posterior.
E ainda nada.
Mais espera por todo o castelo, por toda a cidade de Iedo. Todas as criaturas vivas esperavam. Nada.
Yoshi tomou um gole de chá, ajeitou a xícara com todo cuidado no pires. Anjo invejou-o por seu controle. Por dentro, Yoshi estava em turbilhão, e pensou: Hoje, os deuses me sorriram, mas o que acontecerá no próximo choque, ou no outro, ou no outro... a qualquer momento agora, ou no futuro distante, ou esta tarde, ou esta noite, ou amanhã? Karma!
Seguro hoje, mas em breve haverá outro, terrível, um terremoto destruidor, como o que ocorreu há sete anos, quando quase morri, e cem mil pessoas pereceram só em Iedo, no terremoto e nos incêndios subsequentes, sem contar as dezenas de milhares arrastadas para o mar e afogadas, pela onda
— A guerra é completamente insensata agora.
Tosa e Choshu eram feudos distantes de Iedo, ambos inimigos históricos do xogunato.
— Os
Anjo tentou ocultar a dificuldade que sentiu para soltar o cabo da espada, ainda apavorado.