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— O que ele disse, Johann?





Sir William teve de elevar a voz acima do barulho, pois o intérprete ainda falava ao governador e aos representantes do Bakufu, que conversavam entre si.





Johann sentia-se feliz agora, pois sabia que a reunião terminaria logo e poderia voltar ao Long Bar, para o almoço, acompanhado por schnapps.



— Não sei, exceto que o governador repete que o melhor que pode fazer é transmitir seu pedido etecétera, às autoridades etecétera, mas não há a menor possibilidade do xógum conceder essa honra etecétera, porque é contra seus costumes etecétera...



Sir William bateu com a palma da mão na mesa. No silêncio chocado, ele apontou para o governador, depois para si mesmo.





Watashi... eu...— Ele apontou pela janela, na direção de Iedo. — Watashi ir a Iedo!



Depois, ele levantou três dedos, e arrematou:



— TRÊS DIAS, num navio de guerra!



Sir William levantou-se, saiu da sala. Os outros o seguiram. Ele seguiu pelo corredor até sua sala, foi à mesa com garrafas de cristal lapidadas, serviu-se de uísque.



— Alguém gostaria de me acompanhar? — indagou ele, enquanto os outros o cercavam.



Automaticamente, Sir William serviu scotch para os almirantes, o general e o prussiano, clarete para Seratard e uma significativa vodca para o conde Zergeyev.



— Pensei que tudo transcorreria de acordo com o que planejamos. Lamento ter escapado ao controle.



— E eu pensei que ia arrebentar uma artéria — comentou Zergeyev, esvaziando seu copo e servindo-se de mais vodca.



— Longe disso. Apenas queria encerrar a reunião com um pouco de drama



— Então partiremos para Iedo dentro de três dias?





— Exatamente, meu caro conde. Almirante, prepare a nave capitânia para zarpar ao amanhecer, passe os próximos dias arrumando tudo, organizando o convés para combate de forma ostensiva, todos os canhões em posição, mande toda a esquadra ficar de prontidão e se juntar a nós em batalha, se for necessário General, quinhentos soldados devem ser suficientes para uma guarda de honra Monsieur, a nave capitânia francesa gostaria de nos acompanhar?



— Claro — respondeu Seratard. — Pode estar certo de que o acompanharei, e sugiro a legação francesa como quartel-general, e uniformes de gala.



— Não aos uniformes, pois será uma missão punitiva, não para apresentar credenciais... isso só ocorrerá depois. E não ao quartel-general. Um cidadão britânico é que foi assassinado e... Como posso dizer? Nossa esquadra é que será o fator decisivo.



Von Heimrich soltou uma risada.



— Sem dúvida, é mesmo decisiva nestas águas, no momento. — Ele olhou para Seratard. — Uma pena que eu não tenha uma dúzia de regimentos da cavalaria prussiana, pois neste caso poderíamos dominar os japoneses sem a menor dificuldade e acabar com toda a sua estupidez insidiosa e os maus modos.



— Só uma dúzia? — indagou Seratard, sarcástico.



— Seria o suficiente, Herr Seratard, para todo o Japão... nossos soldados são os melhores do mundo... depois das tropas de sua majestade britânica, é claro — acrescentou ele, insinuante. — Ainda bem que a Prússia pode dispensar vinte ou até trinta regimentos só para este pequeno setor e ainda contar com o necessário para lidar com qualquer problema que possamos enfrentar, em qualquer lugar, particularmente na Europa.





— Bom... — interveio Sir William, enquanto Seratard ficava vermelho. Ele terminou de tomar seu drinque. — Irei a Kanagawa para tomar algumas providências. Almirante, general, talvez devêssemos ter uma rápida conferência quando eu voltar... irei à nave capitânia. Ah, monsieur Seratard, o que vamos fazer com mademoiselle Angelique? Quer que eu a escolte de volta?











Ela saiu do quarto ao sol do final da tarde, atravessou o corredor, desceu a escada principal para o saguão de entrada. Usava agora o vestido de anquinha do dia anterior, elegante outra vez, mais etérea do que nunca — os cabelos arrumados, presos no alto da cabeça, os olhos realçados. Perfume e o farfalhar de anáguas.



As sentinelas na porta principal murmuraram um cumprimento embaraçado, intimidadas por sua beleza. Angelique retribuiu com um sorriso distante e se encaminhou para a enfermaria. Um criado chinês fitou-a boquiaberto e passou apressado.



A porta foi aberta um instante antes de Angelique alcançá-la. Babcott saiu, parou no mesmo instante.



— Olá, Srta. Angelique... puxa, como está bonita! — disse ele, quase gaguejando.



— Obrigada, doutor. — Seu sorriso era gracioso, a voz, gentil. — Gostaria de lhe falar... Podemos conversar por um momento?



— Claro. Vamos entrar. Fique à vontade.



Babcott levou-a para sua sala, fechou a porta, instalou-a em sua melhor cadeira, foi sentar atrás da mesa, impressionado com a radiância de Angelique, pela maneira como o penteado destacava o pescoço longo à perfeição. Ele tinha os olhos injetados, sentia-se muito cansado. Mas assim é a vida, pensou, deleitando-se com a visão da moça.



— Aquela bebida que me deu, ontem à noite, era alguma espécie de droga?



— Era, sim. Fiz bastante forte, pois você estava um pouco transtornada.





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