Mais uma vez Jamie seguiu à frente, desviando-se entre os escombros, na direção do cais no outro lado do passeio, perto do lugar em que antes se erguia o prédio do Guardian. Havia muitos homens vagueando por ali, olhando impressionados para as ruínas da aldeia, Yoshiwara e cidade dos bêbados ou apenas passeando a esmo, pois ainda era muito cedo para dormir. Reconhecendo alguns, Jamie passou a andar mais devagar, não querendo atrair qualquer atenção. Dmitri era um deles, voltando para casa. Jamie não pôde reprimir um sorriso amargo. Naquela manhã, Dmitri, radiante, procurara-o para informar que descobrira Nemi durante a madrugada e que ela estava bem, tinha apenas umas poucas equimoses, salvara-se quase ilesa.
— Graças a Deus, Dmitri!
— A primeira coisa que ela disse foi Jami-san bem? Eu disse que sim e ela me deu um abraço para você. Dei o seu recado, de que a encontraria assim que fosse possível.
— Obrigado. Isso tira uma carga da minha cabeça. Receava que ela tivesse morrido. Acabei encontrando sua estalagem, mas era apenas uma pilha de cinzas, inclusive nossa casa. Não descobri ninguém que... Graças a Deus.
— Lembra o que eu...
— Claro que lembro, mas primeiro tenho de conversar com ela. Afinal, Nemi não é uma mera peça do mobiliário.
— Ei, companheiro, vamos com calma! Nem pense nisso. Não tive a intenção de insinuar qualquer coisa...
Jamie suspirou e continuou a avançar, passando pelas ruínas de um bar, agora não muito longe do passeio. Dmitri é um ótimo sujeito, pensou ele, mas Nemi era especial, e...
— Oh, Deus, olhe ali!
Ele apontou. Cinco guerreiros samurais exaustos agachavam-se ao redor de uma fogueira, ao lado do cais, fazendo um chá. Num instante, Jamie avaliou as alternativas. Não havia nenhuma.
— Não temos como evitar. Vamos embora.
Ao chegaram ao passeio, Lunkchurch emergiu da escuridão.
— Jamie — murmurou ele, soturno —, o que você vai fazer? Perdeu tudo, como eu...
Lunkchurch lançou um olhar para Phillip, mal notando os outros dois. Pareciam marujos asiáticos comuns, de um tipo abundante na frota mercante.
— É uma merda...
— Talvez não seja tão horrível assim, Barnaby. Tenho algumas idéias. Falarei com você amanhã.
Jamie continuou a andar, chegou ao cais, levantou o chapéu, polido, para os samurais e seu oficial, que retribuíram a saudação, distraídos. As estacas e o caminho de madeira do cais se estendiam por cinquenta metros, pelo mar adentro. Jamie sentiu um aperto no coração. Não havia nenhum cúter à espera e nenhum se aproximava do cais da Struan, ao norte. No meio da baía, o
No início daquela tarde, Jamie perguntara a MacStruan se podia emprestar o cúter naquela noite, para uma rápida viagem, pois queria conversar com o capitão do
— Só precisamos levá-lo às escondidas para bordo do
— Ele está vivo? Fui informado que havia morrido no incêndio... ele está mesmo vivo?
— Está, sim. Tudo o que temos de fazer é levá-lo para bordo, junto com seu amigo.
— Pedirei a Johnny Twomast para escondê-lo, mas apenas se você obtiver a aprovação de Willie. Hiraga ainda é um assa...
— Hiraga morreu... Nakama, Hiraga, é tudo a mesma coisa, oficialmente, Willie disse que o sargento confirmou sua morte no incêndio. Nakama está morto, desapareceu para sempre, assim como Hiraga. Mandá-lo para fora daqui num navio é a solução perfeita e vale a pena salvá-lo. Só estamos ajudando dois samurais estudantes a conhecerem o mundo, o nosso mundo, durante cerca de um ano, e um deles se chama Otami.
— Se formos apanhados, Willie vai arrancar sangue... o nosso sangue.
— Não há motivo para sermos apanhados. Otami é mesmo Otami, seu nome verdadeiro, e ele me falou sobre você e o
Jamie acabara concordando e se encontrara com o
— Onde está o cúter, Jamie? — indagou Tyrer, nervoso.
— Já vai chegar.
Sentindo-se bastante expostos, os quatro homens esperaram na extremidade do cais, perto dos degraus cambaios, escorregadios, cheios de algas, todos conscientes dos samurais ali perto, seu capitão andando de um lado para outro. Hiraga sussurrou:
— Taira-sama, aquele capitão lembrar? Ele vigilante. Lembrar ele, capitão no portão?
— Que portão?