Depois de deixar Sir William, ela esgotara as lágrimas na privacidade de sua suíte... tanto choro nestes dias, pensara, não sei de onde saem tantas lágrimas, mas depois que passa a angústia, a cabeça desanuvia, ressurge o pensamento lúcido. Outra vez sob controle, ela descera e tivera nova reunião com Gornt, em particular. E disseram tudo o que ainda precisava ser dito. A força, confiança e amor que ele irradiava haviam dissipado os pensamentos ruins.
Edward é bom para mim, refletiu ela agora, contemplando-o... não que algum dia possa substituir meu Malcolm, pois é diferente.
— Você está bem agora? — indagou ele.
— Estou, sim, obrigada, meu caro. Volte depressa. Ele beijou a mão estendida de Angelique.
— Cuide-se,
A exultação fazia com que ele parecesse ainda mais infantil.
— Não se esqueça. — Angelique pedira-lhe que dissesse a Tess que esperava que pudessem um dia se encontrar como amigas. — É importante.
— Sei disso, não esquecerei, e voltarei antes do que imagina. — Para os que se encontravam nas proximidades, Gornt acrescentou, em voz mais alta: — Providenciarei para que toda a sua lista de compras seja atendida. Não se preocupe.
Uma pequena pressão final na mão de Angelique e ele saltou para o convés escorregadio, despreocupado, o último a embarcar. O contramestre tocou o apito, empurrou a alavanca para toda velocidade à popa e recuou pelas ondas crispadas. Gornt acenou e depois, sem querer ser indiscreto, entrou na cabine.
— Uma linda jovem — murmurou Hoag, pensativo.
— Tem toda razão, senhor, uma
— Já esteve na índia alguma vez, Edward?
— Não, nunca. E você já esteve em Paris?
— Não, nunca. Mas a índia é o melhor lugar do mundo, a melhor vida no mundo para os ingleses.
Em sua imaginação, Hoag podia se ver chegando à casa da família, por trás de muros altos, tudo castanho e poeirento por fora, mas fresco e verde lá dentro, o som do chafariz se misturando com as risadas na casa principal e nos alojamentos dos criados, a cordialidade e serenidade que todos demonstravam, por causa da convicção total no nascimento, morte e renascimento, numa sucessão interminável, até que, pela misericórdia do infinito, alcançavam o nirvana, o lugar da paz celestial. Arjumand estará lá, pensou ele, e espero poder encontrar meu caminho para o nirvana também.
Seus olhos focalizaram o cais, Angelique e os outros, todas as pessoas que provavelmente nunca mais tornaria a ver. Angelique acenou agora pela última vez, depois se aproximou de Maureen Ross, que esperava sob o lampião. Espero que se tornem amigas, pensou Hoag, especulando sobre as duas. Mais um momento e elas e o cais tornaram-se parte da noite. Angelique está certa em se submeter a Tess, refletiu ele, embora não tivesse mesmo qualquer opção. Distraído, seus dedos se certificaram de que a declaração estava mesmo guardada no bolso.
Muito triste o que aconteceu com Malcolm, trágico. Pobre Malcolm, trabalhando com a maior diligência por toda a sua vida, por algo que nunca teria, algo que nunca seria. Malcolm Struan, o
— Muito triste o que aconteceu com Malcolm, não acha?
Mas Gornt não se encontrava mais ao seu lado. Hoag olhou ao redor e viu que ele saíra para o convés, postara-se de costas para Iocoama e contemplava o
Por que o sorriso e o que ficou para trás?, especulou Hoag. Tão duro, mas ao mesmo tempo... Havia algo de estranho naquele jovem. Ele é um rei em ascensão ou um homem fadado ao regicídio?
A maioria das pessoas no cais já se afastara. Angelique permanecia ao lado de Maureen, perto do lampião, observando o
— Maureen... — Angelique fitou-a. Seu sorriso adorável se evaporou, ao notar como sua nova amiga parecia infeliz. — Qual é o problema?
— Não é nada. Isto é... ora, não envolve você. Acontece que não vi Jamie durante o dia inteiro, ele esteve ocupado, e eu... tinha uma coisa importante...
As palavras definharam.
— Esperarei com você, se quiser. Ainda melhor, Maureen, por que não vem comigo? Podemos esperar na minha suíte, e observar pela janela. Avistaremos o cúter com bastante antecedência para vir recebê-lo aqui.
— Acho que... acho que é melhor esperar aqui.
Angelique pegou-a pelo braço, a mão firme.
— O que foi? Qual é o problema? Posso ajudar?
— Não... acho que não, minha cara Angelique. É que... apenas... — Maureen hesitou de novo, e depois gaguejou: — Oh, Deus, eu não queria preocupá-la com isso, mas... a amante de Jamie me procurou esta tarde.
— Da Yoshiwara?