Tyrer agradecera, sabendo que nunca aproveitaria a oferta. Afinal, não podia esquecer Angelique, não é mesmo? E a possibilidade de pegar uma daquelas doenças horríveis, como a gonorréia ou a doença francesa que os franceses chamam de doença inglesa, e que os médicos chamam de sífilis, mencionada por George Babcott como abundante aqui, e também em qualquer dos portos do tratado da Ásia...
—... ou em qualquer outro porto, diga-se de passagem, Phillip. Vejo muitos casos aqui entre os japoneses, nem todos relacionados com europeus. Se você sente essa disposição, use um preservativo. É verdade que não são seguros, ainda não são muito bons. O melhor é se abster, se entende o que estou querendo dizer.
Phillip Tyrer estremecera. Só tivera uma experiência. Dois anos antes, embriagara-se por completo, junto com alguns colegas, depois dos exames finais, na taberna Star and Garter, na Pont Street.
— Agora chegou sua vez, Phillip. Está tudo acertado, ela fará por dois pence, nao é mesmo, Flossy?
Era uma criada do bar, uma garota dissoluta de quatorze anos, e a coisa acontecera às pressas, com muito suor, num cubículo malcheiroso no segundo andar... um penny para ela, e o outro para o taberneiro. Por meses depois, ele ficara apavorado com a possibilidade de ter contraído alguma doença.
— Temos mais de cinqüenta casas de chá, como são chamadas, ou estalagens a escolher, desde a nossa, em Yoshiwara. Todas são licenciadas e controladas pelas autoridades, e outras mais surgem acada dia. Mas tome cuidado, nem chegue perto da cidade dos bêbados.
Era a parte insalubre da colônia, onde ficavam os bares e pensões mais sórdidos, em torno do único bordel europeu.
— É para os soldados e marujos, para a gentalha, os vagabundos, imigrantes sem dinheiro, jogadores e aventureiros, que ali se reúnem, no maior sofrimento. Em cada porto se encontra um lugar assim, porque ainda não temos polícia, nem leis de imigração. Talvez a cidade dos bêbados seja uma válvula de segurança, mas é insensato visitá-la depois do escurecer. Se preza a sua carteira e suas partes privadas, não as leve até lá. Musuko-san merece melhor.
— O que significa isso?
— É uma palavra muito importante.
Tyrer recostou-se, o caderno de anotações esquecido, o cérebro fervilhando. Quase sem perceber o que fazia, abriu o livro de
Não havia futuro em olhar imagens obscenas, refletiu ele, dominado pela repulsa. A vela gotejava agora. Ele soprou a vela, deitou-se, sentindo a dor familiar entre as pemas.
André é mesmo um homem de sorte. É óbvio que ele tem uma amante. O que deve ser maravilhoso, mesmo que só a metade do que ele diz seja verdade.
Será que eu também poderia ter uma? Poderia comprar um contrato? André disse que muitos por aqui fazem isso, alugam casas pequenas em Yoshiwara, que podem ser secretas e discretas, para quem assim desejar.
— Correm rumores de que todos os ministros possuem uma, e Sir William com certeza, vai lá pelo menos uma vez por semana... ele acha que ninguém sabe. mas todos o espionam e riem... menos o holandês, que é impotente, segundo os rumores, e o russo, que abertamente prefere experimentar casas diferentes...
Devo me arriscar, se tiver condições? Afinal, André me forneceu um motivo niuito especial:
— Para aprender japonês depressa,
Mas seu último pensamento, antes que o sono o dominasse, foi outro: Gostaria de saber por que André foi tão gentil comigo, tão loquaz. É raro para um francês se abrir com um inglês. Muito raro. E é estranho que ele não tenha mencionado Angelique uma única vez...