— Mas posso lhe perguntar,
O estranho soltara uma risada jovial.
— Está sendo muito gentil. Não sou fluente, mas tento. — Ele dera de ombros, divertido. — Com paciência. E porque alguns dos nossos santos padres falam a língua.
Phillip Tyrer franzira o rosto.
— Mas acontece que não sou católico, mas sim da igreja anglicana e... ahn... aprendiz de intérprete na legação britânica. Meu nome é Phillip Tyrer e acabei de chegar, estou meio desorientado.
— Ah, claro, o jovem inglês da
—
No mundo inteiro, fora da Grã-Bretanha, o francês era a língua da diplomacia, e a língua franca da maioria dos europeus; portanto, era essencial para ocupar um posto no Ministério do Exterior britânico, e para qualquer um que se considerasse instruído. Em francês, ele acrescentara:
— Acha que os padres concordariam em me ensinar ou permitiriam que eu participasse de suas aulas?
— Não creio que eles dêem aulas. Posso perguntar. Vai partir com a esquadra amanhã?
— Vou, sim.
— Eu também, acompanhando
— Infelizmente, não. Só passei duas semanas em Paris,
— O seu francês é muito bom,
— Nem tanto quanto eu gostaria — respondera Tyrer, voltando a falar em inglês. — Posso presumir que também é um intérprete?
— Oh, não, sou apenas um homem de negócios. Mas às vezes procuro ajudar
Poncin fora até a prateleira, escolhera um livro.
— Já viu um desses? É de Hiroshigue, Cinqüenta e Três Estações na Estrada de
As xilogravuras em quatro cores eram requintadas, melhores do que qualquer outra coisa que Tyrer já vira antes, os detalhes extraordinários.
— Mas são maravilhosas!
— Tem toda razão. Ele morreu há quatro anos, o que é uma pena, porque era fantástico. Alguns artistas japoneses são fabulosos, Hokusai, Masanobu, Utamaro, e uma dúzia de outros. — André rira, pegara outro livro. — Este aqui é indispensável, uma cartilha do humor e caligrafia dos japoneses, como eles chamam sua escrita.
Phillip Tyrer ficara espantado. A pornografia era decorosa e absolutamente explícita, página após página, com homens e mulheres muito bem vestidos, as partes nuas exageradas, desenhadas em detalhes precisos, enquanto se uniam com vigor e inventividade.
— Oh, meu Deus!
Poncin soltara uma gargalhada.
— Ah, estou vendo que lhe proporcionei um novo prazer. Em matéria de erotismo, eles são excepcionais. Tenho uma coleção que gostaria de lhe mostrar. As ilustrações são chamadas
— Eu... ahn... não... ainda não.
— Neste caso, permita que eu seja seu guia?
Agora, durante a noite, Tyrer recordou a conversa, e como se sentira secretamente embaraçado. Tentara fingir que também era um homem do mundo, com muita experiência, mas ao mesmo tempo ressoava em sua cabeça o conselho solene e constante do pai:
— Escute, Phillip, os franceses são indignos, não merecem a menor confiança, os parisienses são a escória da França, e Paris é sem dúvida a cidade do pecado no mundo civilizado... licenciosa, vulgar e francesa!
Pobre papai, pensou Tyrer, ele se enganava em muita coisa, mas também viveu os tempos napoleônicos, e sobreviveu ao banho de sangue em Waterloo. Por maior que fosse a vitória, deve ter sido terrível para um pequeno tambor de dez anos. Não é de admirar que ele nunca tenha perdoado, não fosse capaz de esquecer, nem de aceitar a Nova Era. Ora, não importa. Papai tem a sua vida, e por mais que eu o ame, que o admire pelo que fez, devo levar minha própria vida. A França é quase uma aliada agora... e não é errado escutar e aprender.
Ele corou, lembrando como absorvera as palavras de André... ao mesmo tempo em que sentia secreta vergonha por seu ávido fascínio.
O francês explicara que no Japão os bordéis eram lugares de grande beleza, e suas cortesãs, as damas do mundo flutuante ou do mundo dos salgueiros, como eram chamadas, destacavam-se como as melhores que ele já experimentara.