— E não vejo motivo para esperarmos — interrompeu-o Anjo. — O mais prudente é partirmos, pois eles iniciarão o bombardeio a qualquer momento. O primeiro canhoneio foi uma advertência.
— Não penso assim. Acho que foi apenas um anúncio arrogante de sua presença. Nenhuma bomba caiu na cidade. A esquadra não vai nos bombardear. Repito que estou convencido de que a reunião de amanhã ocorrerá como foi planejado. E nessa re...
— Como você pode ser tão cego? Se nossas posições fossem invertidas. E você comandasse a esquadra, contando com todo esse poderio, hesitaria por um instante sequer? — Anjo tremia de raiva. — E então, hesitaria?
— Não, claro que não! Mas eles não são como nós e nós não somos com eles, esse é o meio para controlá-los.
— Você fala de maneira incompreensível! — exasperado, Anjo virou-se para os outros três conselheiros. — O xógum deve ser levado a um lugar seguro, e devemos partir também, para continuar a governar longe daqui. Isso é tudo o que proponho, uma ausência temporária. Exceto por nossas guardas pessoais, todos os outros samurai
— Você pode ficar também, se assim desejar. Agora, vamos votar... A ausência temporária foi aprovada!
— Esperem! Se fizerem isso, o xogunato perderá seu prestígio para sempre. Nunca mais seremos capazes de controlar os
— Estamos apenas sendo prudentes. O
— Eu digo não! — gritou Yoshi.
— Concordo com Yoshi-san — declarou Utani, um homem baixo e magro, olhos gentis, rosto encovado. — Concordo que perderemos prestígio para sempre se partirmos.
Yoshi sorriu, gostando da atitude. Os
— Adachi-sama?
Depois de um longo momento, Adachi,
— Concordo com Anjo-sama que devemos partir, levando o xógum. Mas também concordo com você que neste caso podemos perder, mesmo que saiamos ganhando. Com todo respeito, meu voto é não.
O último ancião, Toyama, tinha cinqüenta e poucos anos, cabelos grisalhos, uma enorme papada, cego de um olho num acidente de caça... um velho no Japão. Era o
— Não me incomoda nem um pouco se todos nós vivemos ou morremos, nem a morte de meu filho, este xógum... sempre haverá outro. Mas me incomoda, muito, bater em retirada só porque os
— Não dispomos de tropas suficientes aqui — protestou Anjo, cansado do erro e de sua militância, que nunca fora comprovada. — Quantas vezes tenho de dizer isso? Não temos tropas suficientes para defender o castelo e impedi-los de desembarcar. Quantas vezes tenho de repetir que nossos espiões informaram que eles têm dois mil soldados com fuzis em seus navios e na colônia, e dez vezes mais em Hong Kong...
Irritado, Yoshi não o deixou continuar:
— Teríamos mais do que o suficiente em samurai
— Fiz isso a pedido do imperador, por escrito, apresentado por um príncipe de sua corte. Não tínhamos opção que não obedecer. Você também teria obedecido.
— Teria... se tivesse recebido o documento! Mas nunca o aceitaria, trataria de me ausentar ou retardaria o príncipe, qualquer uma de dezenas de manobras ou negociaria com Sanjiro, que instigou os “pedidos” ou pediria a um dos nossos partidários na corte para solicitar ao imperador que cancelasse os pedidos. — A voz de Yoshi era ríspida. — Qualquer petição do xogunato deve ser aprovada, essa é a lei histórica. Ainda controlamos o estipêndio da corte! Você traiu nossa herança!
— Chama-me de traidor?
Para choque de todos, a mão de Anjo apertava o cabo da espada.
— Digo que você permitiu que Sanjiro o manobrasse — respondeu Yoshi, sem se mexer, calmo por fora, torcendo para que Anjo fizesse o primeiro movimento, para poder então matá-lo e acabar para sempre com sua estupidez. — Não há precedentes de ação contra o legado. Foi uma traição.
— Todos os outros
Utani respondeu com a maior calma:
— É verdade que concordei... mas agora acho que foi um erro.