Os japoneses fizeram uma reverência cerimoniosa. Sir William e os outros levantaram o chapéu. Com o devido ritual, conduziram os japoneses para a grande sala de audiências, tentando disfarçar sua diversão pelos trajes exóticos: pequenos chapéus pretos laqueados, equilibrados no alto de cabeças raspadas e presos com cordões por baixo do queixo, os trajes externos de ombreiras largas, os quimonos de seda cerimoniais, multicoloridos, as calças volumosas, sandálias de tiras de couro, e meias abertas entre os dedos, as
— Esses chapéus não são bastante grandes para se dar uma mijada — comentou o russo.
Sir William sentou no centro da fila de cadeira, junto com os ministros, Phillip Tyrer numa extremidade, para completar a delegação. Os representantes do
— Tomo Watanabe, servidor subalterno, segunda classe — disse ele, fingindo uma humildade que não sentia.
Sua posição era a mais insignificante, na extremidade, as roupas menos requintadas que as dos outros. Todos os guardas haviam sido ordenados, sob pena de punição, a tratá-lo como o menos importante ali.
Ele se acomodou, sentindo a maior estranheza. Como são feios estes inimigos pensou, como são ridículos e cômicos, com seus chapéus enormes, botas esquisitas e trajes pretos e pesados... não é de admirar que sejam tão malcheirosos!
Sir William começou, com todo cuidado e simplicidade:
— Um inglês foi assassinado por samurai
Por volta das cinco horas, os ânimos europeus estavam em frangalhos, os japoneses ainda polidos, sorridentes, mantendo uma fachada imperturbável. Em uma dúzia de modos diferentes, seus porta-vozes alegaram que... sentimos muito mas não temos jurisdição sobre
Cada questão tinha de ser traduzida do inglês para o holandês e o japonês — e as frases nesta última língua eram longamente discutidas entre eles —, e as respostas traduzidas para o holandês e depois para o inglês, com uma inevitável homília, e sempre com pedidos polidos de explicações sobre os pontos mais triviais.
Yoshi achou que todo o procedimento era muito interessante, pois nunca antes estivera diante de tantos
Três dos outros quatro eram de fato servidores do
Quando Yoshi mandara buscá-lo, dois dias antes, Misamoto no mesmo instante se prostrara diante dele, tremendo de medo.
— Levante-se e sente ali.
Yoshi apontara com o leque para a beira da plataforma de tatame em que sentava. Misamoto obedecera. Era um homem pequeno, de olhos rasgados, cabelos e barba compridos e grisalhos, o suor escorrendo pelo rosto, as roupas ordinárias, quase em farrapos, as mãos calosas, a pele da cor de mel escuro.
— Vai me contar a verdade. Seus interrogadores informam que fala inglês, fala mesmo?
— Sim, lorde.
— Nasceu em Anjiro, em Izu, e esteve na terra chamada América?
— Sim, lorde.
— Quanto tempo passou lá?
— Quase quatro anos, lorde.
— Em que lugar da América?
— San Francisco, Lorde.
— O que é San Francisco?
— Uma cidade grande, lorde.
— Só lá?
— Sim, lorde.