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"E no entanto, como rodas nós sabemos, é muito difícil ter um orgasmo apenas com a penetração. É bom ser possuída por um homem, mas o prazer está naquele grãozinho ali, descoberto por um italiano!"


Distraída, Maria reconheceu que tinha o problema diagnosticado por Freud: ainda era infantil, seu orgasmo não tinha se deslocado para a vagina. Ou será que Freud estava errado?


- E o ponto G, o que você acha?


- A senhora sabe onde fica?


A mulher ficou corada, tossiu, mas teve coragem de responder: - Logo que você entra, no primeiro andar, janela dos fundos. Genial! Descrevera a vagina como um edifício! Talvez tivesse lido aquela explicação em um livro para meninas: depois que alguém bater à porta e entrar, vai descobrir todo um universo dentro do próprio corpo. Sempre que se masturbava, preferia o tal ponto G ao clitóris, já que este lhe dava uma certa aflição, um prazer misturado com agonia, algo angustiante.


Ia sempre para o primeiro andar, janela dos fundos!

Vendo que a mulher não ia parar de falar - talvez tivesse acabado de descobrir nela


uma cúmplice de sua própria sexualidade perdida -, acenou com a mão, saiu, e procurou continuar se concentrando em qualquer bobagem, porque não era dia de pensar em despedidas, clitóris, virgindade refeita, ou ponto G. Prestou atenção nos ruídos - sinos que tocavam, cachorros latindo, o tram (que era como eles chamavam os bondes locais) rangendo nos trilhos, os passos, a respiração, os letreiros que ofereciam tudo. Já não tinha vontade de voltar ao Copacabana. Mesmo assim sentia-se na obrigação de levar seu trabalho até o final, embora desconhecesse a verdadeira razão - afinal de contas, já tinha conseguido economizar o suficiente. Durante aquela tarde, podia fazer algumas compras, conversar com um ge rente de banco que era seu cliente mas que havia prometido ajudá- la com suas economias, tomar um café, mandar pelo correio algumas roupas que não caberiam na bagagem. Estranho, estava um pouco triste, não conseguia entender; talvez porque ainda faltassem duas semanas, precisava fazer passar o tempo, olhar a cidade com outros olhos, alegrar-se por ter vivido tudo aquilo. Chegou a um cruzamento que já atravessara centenas de vezes; dali podia ver o lago, a coluna de água e - no meio do jardim que se estendia do outro lado da calçada - o belo relógio de flores, um dos símbolos da cidade, e ele não a deixava mentir, porque... De repente, o tempo, o mundo ficou imóvel. Que história era aquela de virgindade recém-recuperada, que pensava desde que acordara?


O mundo parecia congelado, aquele segundo não passava nunca, ela estava diante de algo muito sério e muito importante em sua vida, não podia esquecer, não podia fazer como os seus sonhos noturnos; sempre prometia anotá-los, e nunca se lembrava... "Não pense em nada. O mundo parou. O que está acontecendo?" CHEGA!


O pássaro, a linda história do pássaro que acabara de escrever, era sobre Ralf Hart? Não, era sobre ela mesma!


PONTO FINAL!


Eram 11:11h da manhã, e ela estava parando naquele momento. Era uma estrangeira em seu próprio corpo, estava redescobrindo a virgindade recém-recuperada, mas seu renascer era tão frágil, que se continuasse ali estaria perdida para sempre. Experimentara o céu talvez, o inferno com certeza, mas a aventura chegava ao final. Não podia esperar duas semanas, dez dias, uma semana - precisava ir embora correndo - porque, ao olhar aquele relógio cheio de flores, com turistas tirando fotografias e crianças brincando ao redor, acabara de descobrir o motivo de sua tristeza. E o motivo era o seguinte: não queria voltar. E a razão não era Ralf Hart, a Suíça, a aventura. A verdadeira razão era simples demais: dinheiro.


Dinheiro! Um pedaço de papel especial, pintado com cores sóbrias, que todo mundo dizia valer alguma coisa - e ela acreditava, todos acreditavam nisso - até o momento em que fosse com uma montanha daquele papel a um banco, um respeitável, tradicional, secretíssimo banco suíço, e pedisse: "Posso adquirir um pouco de horas para minha vida?" "Não, senhora, não vendemos isso; só compramos." Maria foi despertada de seu delírio pela freada de um carro, a reclamação de um motorista, e um velhinho sorridente, falando inglês, e pedindo que recuasse - o sinal estava fechado para pedestres.


"Bem, acho que descobri algo que todo mundo deve saber."

Mas não sabiam: olhou à sua volta, pessoas andando de cabeça baixa, correndo para ir


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