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O general Thomas Ogilvy interrompeu-o, em tom firme, mas polido:

— Trata-se de uma operação em terra, meu caro almirante. Sr. Ceraturd... — O general de cinqüenta anos, grisalho, rosto vermelho, pronunciou errado o nome do francês, com todo cuidado, e deixou de usar “monsieur”, para aumentar o insulto. — ...temos mil soldados britânicos em acampamentos, duas unidades de cavalaria, três baterias de artilharia, com os mais modernos canhões, e podemos trazer oito ou nove mil soldados de infantaria britânicos e indianos, mais as tropas de apoio, num prazo de dois meses, de nosso baluarte em Hong Kong.

Ele fez uma pausa, ajeitando seu alamar, e acrescentou:

— Não há qualquer problema concebível que as forças de sua majestade, sob o meu comando, não possam resolver de maneira rápida e eficiente.

— Concordo — disse o almirante, sob aplausos estrondosos. Quando cessaram, Seratard indagou:

— Propõe então uma declaração de guerra?

— De jeito nenhum, senhor — respondeu o general, deixando transparecer a aversão mútua.— Apenas afirmei que podemos fazer o que é necessário, quando for necessário, e quando formos obrigados a isso. E creio que este “incidente” é uma questão a ser decidida pelo ministro de sua majestade, junto com o almirante e comigo, sem um debate inconveniente.

Alguns gritaram em aprovação, a maioria desaprovou, e alguém ressaltou:

— Nossa prata e impostos é que pagam todos vocês, e por isso temos o direito de dizer o que é o quê. Nunca ouviram falar de Parlamento?

— Uma cidadã francesa esteve envolvida — declarou Seratard, veemente, do barulho — e, assim, a honra da França também está envolvida. Houve assobios e comentários picantes sobre a moça. Sir William tornou a bater o martelo, e isso permitiu que o ministro americano em exercício, Isiah Adamson, declarasse, friamente:

— A idéia de entrar em guerra por causa desse incidente é absurda, e a oposta de capturar ou atacar um rei em seu país soberano é uma total insensatez... Típica do arrogante egoísmo imperialista! A primeira providência deve ser a de comunicar o fato ao Bakufu, e depois pedir...

Irritado, Sir William interrompeu o americano:

— O Dr. Babcott já fez o comunicado em Kanagawa. Eles negaram qualquer conhecimento do incidente, e é bem provável que sigam o padrão anterior e continuem a negar. Um súdito britânico foi brutalmente assassinado, outro sofreu ferimentos graves, e nossa jovem e atraente hóspede estrangeira ficou apavorada, o que foi imperdoável. Esses atos, devo lembrar, como o Sr. McFay tão bem ressaltou, pela primeira vez foram cometidos por criminosos que podem ser identificados. O governo de sua majestade não permitirá que isso fique sem punição...

Por um momento, a voz foi abafada por aclamações tumultuadas, e depois Sir William acrescentou:

— Só resta decidir a extensão dessa punição, como devemos agir, e quando. Sr. Adamson?

— Já que não estamos envolvidos, não tenho qualquer recomendação formal.

— Conde Zergeyev?

— Meu conselho formal é o de que devemos atacar Hodogaya, destruir tudo, liquidar os Satsumas. — O russo tinha trinta e poucos anos, um homem forte, barbudo e aristocrático, o chefe da missão do czar Alexandre II. — A força, maciça, implacável e imediata, é a única diplomacia que os japoneses vão compreender. Meu vaso de guerra ficaria honrado em liderar o ataque.

Houve um estranho silêncio. Eu já imaginava que seria essa a sua resposta, pensou Sir William, e não sei se está enganado. Ah, a Rússia, a bela e extraordinária Rússia, é uma pena que sejamos inimigos. A melhor época de minha vida foi em São Petersburgo. Mesmo assim, vocês não vão se expandir para estas águas, detivemos sua invasão das ilhas japonesas de Tsushima no ano passado, e este ano vamos impedi-los também de se apoderarem de Sakhalin.

— Obrigado, meu caro conde. Herr von Heimrich? O prussiano era idoso, o comportamento brusco.

— Não tenho nenhum conselho neste caso, Herr cônsul geral. Só posso dizer formalmente que meu governo consideraria que se trata de uma questão exclusiva do seu governo, sem a interferência de partes menores.

Seratard ficou vermelho.

— Não considero...

— Obrigado por suas sugestões, cavalheiros — interveio Sir William, incisivo, evitando a briga que teria irrompido entre os dois.

No dia anterior, despachos do Ministério do Exterior em Londres informavam que a Inglaterra poderia em breve se envolver em mais uma das intermináveis guerras européias, desta vez entre a beligerante e orgulhosa França e a beligerante, orgulhosa e expansionista Prússia, mas sem prever em que lado. Não dá para entender por que esses demônios estrangeiros não podem se comportar como civilizados.

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