– Tudo bem. – Se tentar algum truque, certificar-me-ei de que é afastado da empresa. Na verdade, devia provavelmente afastá-lo de qualquer modo. Não confio mais nele do que confiava no Douglas no fim. – Quando vão os bens dele ser transferidos para mim? Preciso de poder pagar as contas.
A morte do Douglas não significa que a hipoteca não precisa de ser paga. Nem sequer tenho um cartão de crédito ativo, pois cancelou-os a todos. Só a penthome tem uma hipoteca de seis dígitos, por isso vou precisar de algum dinheiro – e depressa.
– Quer que o dinheiro do Doug seja transferido para si? – pergunta o Joe.
– Sim. – Tamborilo os dedos na bancada da cozinha. – É assim que funciona, não é?
– Não propriamente... – Por um momento, o Joe fica em silêncio. – Wendy, está ciente que o Doug mudou o seu testamento no mês passado?
0 que?
– Não. Está a falar de quê?
– Mudou o testamento. Deixou tudo à caridade.
Invade-me uma vaga de tonturas. Poucos meses após o nosso casamento, o Douglas mandou redigir um testamento em que me deixava tudo. Fui com ele ao advogado para me assegurar de que o fazia, sobretudo porque o Douglas era um mestre da procrastinação. Nem me passou pela cabeça que pudesse ter mudado o testamento no curto período desde que nos separámos. Não teria feito isso.
A menos que...
– Está a mentir – cuspo para o telefone. – Está a inventar isto só para me impedir de receber qualquer parte do seu dinheiro.
– Seria tentador. Mas não, não estou a inventar. Tenho uma cópia autenticada do testamento mesmo à minha frente.
– Mas... – gaguejo. – Mas como pôde fazer isso?
– Bem, quando o Doug me explicou, referiu qualquer coisa sobre a Wendy ser uma cabra mentirosa e manipuladora, e que não queria que ficasse com dinheiro algum.
O meu coração parece saltar-me no peito e, por um momento, a minha visão fica turva. Como pode isto estar a acontecer? O Douglas falou em dar todo o seu dinheiro à caridade, mas nunca imaginei que já tivesse iniciado o processo.
– Isto é um ultraje – vocifero. – Não pode cortar-me do testamento! Sou a mulher dele, por amor de Deus! Vou contestar isto e, acredite, vou vencer.
– Tudo bem. Como queira, Wendy. Mas, entretanto, vou precisar que desocupe tanto a penthome como a casa na ilha, pois vamos vendê-los.
– Vá para o Inferno – silvo para o telefone.
Carrego no botão vermelho do meu telemóvel para desligar a chamada, mas tenho as mãos a tremer. Tenho de acreditar que o Douglas não pôde simplesmente assinar um papel a dizer que me vai deixar sem nada e já está. Posso combater isto. E, com o Douglas morto, não pode ripostar. De uma maneira ou de outra, vou receber a minha parte.
Ainda que não vá ter propriamente o património que imaginava. Mas não faz mal.
Enquanto olho fixamente para o meu telemóvel, tentando decidir o meu próximo passo, o aparelho começa de novo a tocar na minha mão. Inspiro fundo ao ver a identidade de quem me liga:
A Polícia de Nova Iorque.
69
Deve ser o detetive Ramirez. Ligou-me há horas, quando ainda estava na cidade, para me informar que iam prender a Millie. Espero que este seja um telefonema de seguimento para me comunicar que ela está devidamente atrás das grades. Com sorte, esta chamada não será tão perturbadora como a anterior.
– Estou? – digo para o telefone, tentando soar como uma viúva devastada. Aquelas aulas de representação que tive na universidade estão a compensar. Mereço um prémio da Academia pela minha atuação diante da Millie.
– Senhora Garrick? – É a voz de Ramirez. – Daqui fala o detetive Ramirez.
– Olá, detetive. Espero que tenha aquela mulher que matou o meu marido segura atrás das grades!
– Na verdade... – Oh, Senhor, o que foi agora? – Não conseguimos localizar a Wilhelmina Calloway. Fomos ao seu apartamento com um mandado de detenção e ela não estava lá.
– Bem, onde está ela?
– Se soubéssemos, tê-la-íamos detido, não é?
Mais uma vez, sinto aquele aperto no peito.
– O que estão a fazer para encontrar essa mulher? É muito perigosa, sabe?
– Não se preocupe. Acabaremos por a localizar. Prometo.
– Ótimo. Ainda bem que tem tudo sob controlo.
– Mas há uma outra coisa de que preciso falar consigo, senhora Garrick.
O que foi agora? Olho na direção da casa de banho. Não sei por que está o Russell ainda lá dentro quando sabe que eu saí. Vai ficar todo engelhado.
– Com certeza, detetive.
– Eis o que se passa, então – diz Ramirez, pigarreando. –O administrador de condomínio do apartamento esteve ausente da cidade nos últimos dois dias. Estava na Europa e não conseguimos contactá-lo. Em todo o caso, falei finalmente com ele esta tarde e disse-me algo realmente interessante.
– Oh?
– Disse que há uma câmara de segurança na entrada das traseiras do edifício.
Acho que o meu coração para por uns bons cinco segundos.
– Desculpe?