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Claro que eu adoraria ter um marido assim, pensou ela. Como papai é esperto! E como era maravilhoso ser francês, e, portanto, superior! E é muito fácil gostar de Malcolm, talvez mesmo amá-lo, com seus olhos estranhos, sua jovem aparência. Espero que ele me peça em casamento. Angelique suspirou e voltou a concentrar sua atenção no presente.

— Inclinarei a cabeça, como fazemos no Bois para Sua Majestade, o imperador Luís Napoleão. O que é, Philip?

— Talvez seja melhor voltarmos — sugeriu Tyrer, apreensivo. — Todos dizem que eles são muito desconfiados de nossa proximidade de seus príncipes.

— Isso é bobagem — interveio Canterbury. — Não há perigo, nunca houve um ataque assim... não é como a Índia, África ou China. Como eu disse, os japoneses respeitam as leis. Estamos dentro dos limites do tratado e faremos a mesma coisa de sempre, deixaremos que eles passem, levantando um pouco o chapéu, polidamente, como se deve fazer diante de qualquer potentado, e depois seguiremos nosso caminho. Está armado, Sr. Struan?

— Claro.

— Eu não estou — disse Angelique, um pouco petulante, olhando para os estandartes, agora a apenas cem metros de distância. — Acho que as mulheres também deveriam andar com pistolas, se os homens agem assim.

Todos ficaram chocados.

— Nem é bom pensar nisso. Tyrer?

Contrafeito, Tyrer mostrou a Canterbury sua pequena pistola.

— Foi um presente de despedida de meu pai, mas nunca a disparei.

— Nem vai precisar agora. Só temos de nos preocupar com os samurais isolados, os que andam sozinhos ou aos pares, e que são anti-estrangeiros fanáticos. — Uma pausa e ele acrescentou, sem pensar: — Ou com os ronins. Mas não há motivo de preocupação. Há um ano ou mais que não temos problemas.

— Problemas? — repetiu Angelique. — Que tipo de problemas?

— Nada demais — respondeu Canterbury, não querendo afligi-la, e tentando encobrir o deslize. — Uns poucos ataques, de uns poucos fanáticos, nada importante.

Ela franziu o rosto.

— Mas monsieur Tyrer disse que houve um ataque em massa contra a legação britânica, e alguns soldados foram mortos. Isso não é importante?

— Foi, sim. — Canterbury sorriu para Tyrer, transmitindo uma mensagem óbvia: você é um tremendo idiota por contar a uma dama algo de tamanha importância! — Mas era apenas um bando de assassinos isolados. A burocracia do xogunato jurou que eles seriam capturados e punidos.

Seu tom era convincente, mas ele se perguntou o quanto da verdade Tyrer e Struan sabiam: cinco homens assassinados nas ruas de Iocoama durante o primeiro ano. No ano seguinte, dois russos, um oficial e um marujo de um vaso de guerra russo, retalhados até a morte, também em Iocoama. Poucos meses mais tarde, dois mercadores holandeses. Depois, o jovem intérprete da legação britânica em Kanagawa, apunhalado pelas costas, e deixado a sangrar até a morte. Heusken, o secretário da missão americana, esquartejado em uma dúzia de pedaços, ao voltar a cavalo para casa, saindo de um jantar na legação prussiana. E, no ano anterior, um soldado e um sargento britânicos, retalhados no lado de fora do quarto do cônsul britânico!

Cada assassinato premeditado, sem qualquer provocação, pensou Canterbury, furioso, e cometido por um samurai de duas espadas. Nunca houvera nenhuma ofensa, em qualquer dos casos... e pior de tudo, nenhum dos desgraçados fora preso e punido pelo todo-poderoso Bakufu do xógum, apesar dos protestos dos chefes de legações, e apesar das promessas dos japoneses. Nossos líderes são uns idiotas irremediáveis! Deveriam ter ordenado que a esquadra entrasse em ação imediatamente, bombardeando Iedo. Só assim o terror cessaria por completo, poderíamos dormir seguros em nossas camas, sem guardas, andar pelas ruas, quaisquer ruas, sem medo quando algum samurai se aproximasse. Os diplomatas são comedores de ânus, e aquele presunçoso era um perfeito espécime.

Amargurado, ele observou os estandartes, tentando decifrar os caracteres. Lá atrás, depois da passagem do cortejo, os viajantes se levantavam, e recomeçavam a caminhada. Os que seguiam na mesma direção da coluna mantinham-se a uma distância cautelosa.

Era insólito que os quatro permanecessem montados, muito acima das fileiras irregulares de pessoas ajoelhadas nos dois lados da estrada, a cabeça na poeira, o traseiro empinado para o ar. Os três homens tentavam não notar a nudez, embaraçados pela presença de Angelique, que também se sentia embaraçada.

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